ARTE SIM - ARTE NÃO



Galeria Maria Martins - UNIVERSIDARTE, Rio de Janeiro / 2005



Palavras: normalmente ausentes da prática modernista, persistentes na prática contemporânea, elas constituem a quase totalidade desta mostra. Pintadas (com spray) sobre o papel pardo de embrulho, remetem de imediato ao dia-a-dia, onde as pichações sobre os muros são a norma. Penduradas em varais, as folhas operam uma segunda remissão ao cotidiano. Com pouco espaço entre elas, obrigam o espectador a estabelecer um contato físico com os trabalhos que tampouco participa da relação normal com a arte.

Toda a exposição se volta a pôr em evidência a fronteira (hoje suficientemente escorregadiça) entre a arte e a não-arte, perguntando a si e ao espectador onde uma começa e onde a outra termina. O que faz de um objeto qualquer (uma folha de papel pardo com palavras pichadas, por exemplo) uma obra de arte ou uma outra coisa qualquer? Onde está o limite entre um objeto comum e um trabalho intelectual? (A resposta de Artur Danto talvez sendo o esforço mais bem sucedido, mas não totalmente completo, para desvendar o mistério). As próprias palavras, com seus jogos de significados, trocadilhos e ambigüidades, acrescentam à proposta de reflexão. Não há exatamente o que apreciar (no sentido em que uma obra convencional está sujeita à apreciação), há sobre o que refletir.

A performance que fecha a exposição põe ainda mais em evidência o caráter problematizante pretendido, permitindo que um gesto burocrático decida, voluntariosamente, o que venha a ser (ou não ser) arte, ainda uma vez através de palavras, sim e/ou não. A questão não é resolvida, claro; apenas é explicitada como problema, deixando em suspenso uma solução que só poderia ser dada se violentadas as premissas.


Reynaldo Roels Jr.

Crítico de Arte e professor da Escola de Artes Visuais do Parque Lage

Novembro, 2005


(Clique aqui para ver a exposição ARTE SIM-ARTE NÃO)



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