De forma irônica, mas não menos reflexiva, Zardo pretende retirar o público da condição de passivo observador, na medida em que propõe uma série de trabalhos onde a repetição de palavras e frases, muitas vezes aparentemente desconexas, redireciona a atenção do público para questões fundamentais ligadas a nossa sociedade de consumo.
Procurando uma aproximação com o próprio espaço oferecido pela galeria, com suas paredes rústicas, o artista instala o seu trabalho construindo varais. A partir desses varais são pendurados cerca de 40 cartazes de papel Kraft, contendo palavras soltas e frases incompletas, escritas com tinta automotiva em spray, que evocam um muralismo urbano.
Para ler é preciso “penetrar” na obra de Zardo. Os cartazes que preenchem o espaço da galeria estão dispostos de forma desordenada, quebrando certas verticalidades e horizontalidades, exibindo-se para o observador de maneira implacável. Frente e verso, o que se vê é um conjunto de palavras que atingem os sentidos antes de atingir ao pensamento.
A multidão de cartazes, suspensa no ar por pequenos pregadores, forma um complexo jogo de palavras, onde a intenção do artista, ora explícita, ora velada, confunde mais do que esclarece.
As palavras revelam menos que instigam. Marcio Zardo desenvolve em seu trabalho, o que se poderia chamar de “ecos gráficos”. São ecos no momento em que partem também de um desejo de alcançar o poder sonoro das palavras faladas, e são gráficos, porque em seu contexto material, as palavras escritas juntamente com a técnica aplicada, dão o corpo físico da obra.
Esses “ecos gráficos” se tornam visíveis a partir da repetição em duas ou três cores combinadas - geralmente utilizando o preto, o vermelho e o tom metálico, sobrepondo-os com a finalidade de provocar um efeito de instabilidade visual. Essa instabilidade acaba por corromper além dos sentidos, os significados, gerando vários planos e um efeito de profundidade vertiginoso.
Dialeticamente, o trabalho de Zardo aborda tanto a função poética quanto a função referencial, como também fala do dado concreto e do imaterial - é documento íntimo e ficção frenética, exposto de maneira rápida, nervosa, acelerada, pois acima de tudo é seriado e contemporâneo por excelência.
Por fim, durante a inauguração da exposição, o artista irá realizar uma performance na qual, sentado à mesa num canto da sala, autenticará seus cartazes para o público, resgatando com esse gesto, a ideia de nomeação conceituada por Marcel Duchamp, e nesse contexto de obra pronta para consumo, não seriam os cartazes de Marcio Zardo também uma espécie de readymades?
Renata Gesomino
Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da UFRJ
setembro de 2010